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Tenho uma tendinite, e agora? (parte 1)

O tendão é uma estrutura de carga, que representa a união do músculo ao osso, permitindo que, quando o músculo contrai, o osso se mova e o movimento, tal como o conhecemos, aconteça.



Neste artigo, dividido em 3 partes, vamos concentrar-nos nos problemas dos tendões do ombro, pois é a mais comum e que mais incapacidade gera aos seus portadores.

A dor no ombro é um dos sintomas mais prevalentes no ombro, levando a alterações da sua função, representando uma causa de incapacidade e um factor de risco para futuras lesões.


Estima-se que cerca de 15 a 30% da população venha a sofrer deste sintoma ou lesão, em algum momento da sua vida. Apesar de não ser necessário existir uma lesão em algum tecido para sentir dor no ombro, essa lesão pode existir, podendo ser a causa de dor. Dentro das lesões do ombro, a tendinopatia (lesão do tendão) da coifa dos rotadores (conjunto de tendões do ombro), é uma das mais comuns.


Mas afinal, o que é uma tendinopatia, tendinite ou tendinose?


Vamos saber.


Uma tendinopatia representa uma disfunção ou uma lesão de um tendão, que pode ter sido provocada por trauma (direto ou indireto) ou por sobrecarga.

Uma tendinite representa um estado em que o tendão sofre um processo de inflamação, ou seja, em determinado momento, existem células inflamatórias no tendão.

Uma tendinose apresenta-se como uma alteração estrutural do tendão (normalmente, mais espessado). Fruto da sobrecarga que recebe, o tendão sofre processos contínuos de microtraumatismos e regeneração, que levam à sua modificação morfológica.

Habitualmente, uma lesão, ou disfunção do tendão, acaba por comportar estas duas últimas fases: tendinite e tendinose, pelo que, o termo convencionado e mais corretamente empregue seja o da Tendinopatia, pois compreende os outros dois e é o termo convencionado e mais universalmente aceite.


Uma lesão de um tendão pode comportar uma série de factores e eventos. A mais simples e clara é o trauma (uma pancada) que desenvolve uma inflamação do tendão e tecidos adjacentes, podendo ser resolvida com medidas antinflamatórias, como o repouso (ou gestão de carga), gelo e alguns agentes físicos terapêuticos ou medicação. Esta também pode ocorrer por uma sobrecarga pontual (por exemplo, um jogo ou treino mais intenso), manifestando-se por alguma componente inflamatória.


Porém, a grande maioria das tendinopatias, são crónicas, podendo apresentar alterações

estruturais, chegando mesmo à degeneração (desgaste) do tecido. Isto acontece devido à exposição do tendão (e do conjunto tendão, músculo) a cargas superiores (ou em algum momento desajustadas), ou pela diminuição da capacidade de adaptação do tendão. O grande problema, é que uma boa parte destas tendinopatias, pode não apresentar sintomas (ou sintomas leves e toleráveis), o que leva o utente a perpetuar o seu padrão (dis)funcional no tempo. É relativamente comum verificarmos em clínica, alterações em tendões sem qualquer sintoma associado, sendo o tendão contralateral (menos alterado) o sintomático.


Quando abordamos um tendão, devemos considerar a causa primária que mais contribuiu para essa alteração. Para tal, devemos dar atenção e modular os factores de risco.


E quais são os factores de risco?


Factores de risco, são condições que nos predispõe à disfunção, patologia, ou doença. No âmbito das tendinopatias, existem factores de risco não modificáveis, modificáveis e outros mistos, que, embora modificáveis, são de difícil alteração e que pelo seu grau e tempo de exposição, já deixaram marcas que são difíceis de apagar.

De seguida apresentamos os factores de risco que influenciam o tendão, aumentando ou diminuindo a probabilidade de uma lesão ocorrer.


Factores não modificáveis:

  • Idade;

  • Lesão prévia no membro;

  • Diabetes Militus;

  • Artrite reumatoide;

  • Hipotiroidismo;

  • Tipo de mobilidade articular (hipomobilidade, ou hipermobilidade)


Factores modificáveis:

  • Excesso de peso;

  • Cargas e gestos relacionados com actividade profissional ou desportiva;

  • Superfícies de treino e calçado;

  • Pouca autonomia profissional (controlo sobre tarefa);

  • Grande exigência psicológica na prática desportiva ou profissional;


Factores Mistos:

  • Alcoolismo moderado;

  • Toma de corticoides ou derivados;

  • Toma de medicação para o colesterol (por exemplo, a sinvastatina);

  • Tabagismo:


Nesta primeira parte do artigo, conseguimos entender que uma correcta abordagem a uma tendinopatia, implica uma avaliação muito objectiva e integrativa, considerando a causa e contemplando os factores de risco, com grande foco na função (padrões motores, cargas, gestos desportivos), correlacionando-a com os sinais e sintomas.


Na próxima parte deste artigo, vamos perceber que alterações ocorrem no tendão e como devemos tratá-lo.


Agora já sabe que quando tiver uma dor no ombro, independentemente de estar relacionada com um tendão, deve ser muito bem avaliada, para poder resolver o problema desde a sua causa. Igualmente, começa a perceber melhor quais as causas da sua dor e o que pode estar a acontecer ao seu tendão. Entende também, que para o tratar deve procurar uma ajuda experiente, com uma abordagem integral e objectiva ao problema.


Entretanto, pode dar atenção aos factores de risco que possam estar presentes. Vemo-nos no próximo artigo e, caso tenha alguma dúvida, é só contactar-nos.

Até breve!


Artigo Desenvolvido por Ricardo Cunha, Fisioterapeuta e Professor de Desporto Especializado em Exercício Clínico e Reabilitação de Problemas do Ombro, na FisioIntegral.

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