top of page
marketingfisiointe

Dor, o que é?!

Atualmente a dor é definida como sendo uma experiência sensorial e emocional

desagradável, associada ou relacionada com potencial ou real dano tecidular [1] .

Apesar de muitas vezes se relacionar a intensidade da dor e/ou a sua duração com a

gravidade de um problema, a sua relação com as diferentes patologias nem sempre é assim tão direta. Ter dor não significa necessariamente que exista dano nas diferentes estruturas ou patologia, nem o contrário. A presença de alterações tecidulares como hérnias, roturas meniscais ou dos tendões, desgaste das articulações, entre outros, nem sempre correspondem à presença ou não de dor [2] , [3] , [4] , [5] .

A experiência de dor e nocicepção são fenómenos diferentes. A nocicepção é o

processo neural capaz de codificar (detetar, transmitir e representar) um estímulo nocivo [6] .



O facto de existir nociceção, não pode, por si só, justificar a presença de dor, sendo que a

experiência de dor não pode ser despoletada isoladamente pela atividade dos neurónios

sensoriais [1] .


A dor é também uma experiência pessoal, influenciada de várias formas por diferentes

fatores, sejam eles biológicos, psicológicos e sociais. Neste grupo de fatores encontram-se, por exemplo, as crenças associadas à condição, quadros de cinesiofobia, catastrofização, baixa-auto eficácia, experiências passadas, expectativas, estados emocionais, entre outros [7] , [8] .


A sua interação não acontece de forma seccionada, havendo constantemente

interação entre estas três componentes [9] . Por este motivo, em contexto de avaliação em fisioterapia, além do despiste de afeção estrutural, devem sempre ser explorados os diferentes fatores psicossociais que possam estar associados ao quadro de dor da pessoa, e que por sua vez possam ser um entrave ou facilitadores à resolução da mesma [10] . A experiência de dor depende então do contexto, sendo influenciada por estas variáveis.


Numa lesão aguda, o alarme de dor é fundamental e útil para evitar a extensão da

agressão ou do dano real. Contudo, quando esse alarme se mantém, já sem o estímulo que o despoletou, este pode ter limitações no dia-a-dia da pessoa que o experiencia,

desempenhando um papel mal adaptativo para o organismo [11] . Posto isto, a dor pode ter efeitos negativos na funcionalidade, socialmente e no bem-estar psicológico da pessoa [1] , [12] .


A revisão da definição em 2020 pela IASP acrescenta ainda algumas notas pertinentes

sobre o tema. A primeira refere-se ao facto de durante o decorrer da vida, os indivíduos

aprenderem e desenvolverem o seu conceito de dor. De seguida, o facto de que a partilha da presença de dor deve ser respeitada.

Ninguém, além daquele que vive e experiencia a dor, pode comprovar ou desmentir a

presença de dor.


Por: Fisioterapeuta Nuno Teixeira



Bibliografia


[1] S. N. Raja, D. B. Carr, M. Cohen, N. B. Finnerup, H. Flor, S. Gibson, F. J. Keefe, J. S. Mogil,

M. Ringkamp, K. A. Sluka, X. Song, B. Stevens, M. D. Sullivan, P. R. Tutelman, T. Ushida e K.

Vader, “The revised International Association for the Study of Pain definition of pain:

concepts, challenges, and compromises,” PAIN, 2020.


[2] R. Kasch, J. Truthmann, M. J. Hancock, C. G. Maher, M. Otto, C. Nell, N. Reichwein, R.

B*ulow, J. Chenot, A. Hofer, G. Wassilew e C. O. Schmidt, “Association of Lumbar MRI

Findings with Current and Future Back Pain in a Population-Based Cohort Study,” SPINE,

2021.

[3] L. M. Horga, A. C. Hirschmann, J. Henckel, A. Fotiadou, A. D. Laura, C. Torlasco, A. D’Silva,

S. Sharma, J. C. Moon e A. J. Hart, “Prevalence of abnormal findings in 230 knees of

asymptomatic adults using 3.0 T MRI,” Skeletal Radiology , 2020.

[4] T. Blankenstein, A. Grainger, B. Dube, R. Evans e P. Robinson, “MRI hip findings in

asymptomatic professional rugby players, ballet dancers, and age-matched controls,”

Clinical Radiology, 2019.

[5] R. G. Barreto, J. P. Braman, P. M. Ludewig, L. P. Ribeiro e P. R. Camargo, “Bilateral

magnetic resonance imaging findings in individuals with unilateral shoulder pain,” Journal

of Shoulder and Elbow Surgery, 2019.

[6] “International Association for the Study of Pain,” [Online]. Available: https://www.iasp-

pain.org/resources/terminology/#nociception.

[7] S. J. Linton e W. S. Shaw, “Impact of Psychological Factors in the Experience of Pain,”

Psychologically Informed Practice, 2011.

[8] R. R. Edwards, R. H. Dworkin, M. D. Sullivan, D. C. Turk e A. D. Wasan, “The Role of

Psychosocial Processes in the Development and Maintenance of Chronic Pain,” The

Journal of Pain, 2016.

[9] P. Stilwell e K. Harman, “An enactive approach to pain: beyond the biopsychosocial

model,” Phenomenology and the Cognitive Sciences, 2019.

[10] G. Rossettini, E. Carlino e M. Testa, “Clinical relevance of contextual factors as triggers of

placebo and nocebo effects in musculoskeletal pain,” BMC Musculoskeletal Disorders,

2018.

[11] A. S. C. Rice, B. H. Smith e F. M. Blyth, “Pain and the global burden of disease,” Pain, 2016.

[12] “Years lived with disability (YLDs) for 1160 sequelae of 289 diseases and injuries

1990–2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010,” Lancet,

2012.

83 views0 comments

Comments


bottom of page