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Atividade física: de lazer e laboral

Updated: Apr 8




“Fazer exercício? Já faço muito no trabalho, não preciso de mais” – sem dúvida uma das expressões mais ouvidas nos momentos que antecedem à prática de exercício físico, em contexto da fisioterapia.


Numa visão mais ortodoxa, pode-se assumir atividade física (AF) como qualquer movimento corporal produzido pela musculatura-esquelética, que exija dispêndio energético por parte do organismo.

A AF é um pilar para uma melhor condição geral de saúde. A sua prática confere ganhos em diversos campos da saúde, melhores prognósticos, e benefícios em inúmeras causas de mortalidade, tais como doenças cardiovasculares, redução da incidência de hipertensão, diabetes tipo 2, diversos tipos de cancro, melhoria na doença mental, saúde cognitiva, sono, entre outros.


No entanto, nem toda a atividade física pode ser considerada benéfica. Assim, Piggin (2020) sugere uma nova definição para a atividade física, englobando qualquer movimento, ação e desempenho realizado dentro de espaços e contextos culturalmente específicos, influenciados por diversos interesses, emoções, ideias, instruções e relacionamentos.


Neste tema salienta-se a dualidade, o paradoxo da atividade física, entre dois tipos de atividade: a atividade física de lazer ou recreativa (AFL) e a atividade física profissional ou laboral (AFP). A dualidade assenta no facto de a atividade física associada ao contexto profissional não promover os mesmos benefícios que a atividade física em contexto de lazer.


Assume-se AFL a prática de atividade física individual, considerada não essencial para a vida diária, onde se inclui a participação em contexto desportivo, exercício físico ou treino e atividades recreativas, como caminhadas. Já a AFP é definida como a atividade física realizada em contexto profissional e/ ou voluntariado, como por exemplo em tarefas de construção, limpeza, agricultura, produção fabril, entre outros.

Diversos aspetos distinguem a AFL da AFP, tanto em termos da sua realização como das adaptações que promovem.

A AFL usualmente inclui movimentos dinâmicos e diversificados, enquanto a AFP implica movimentos repetidos e monótonos, bem como posições mantidas durante um prolongado período de tempo.


Para que se verifiquem adaptações no que diz respeito à saúde cardiovascular e bem estar cardiorrespiratório, é necessário que a AF seja realizada a uma intensidade entre os 60% e 80% da capacidade aeróbica máxima ou do VO2max (capacidade máxima de trabalho fisiológico que um indivíduo consegue fazer, avaliado e medido de acordo com o seu consumo de oxigénio por curtos períodos de tempo. Tais características não se verificam na AFP, sendo que esta é por norma pouco intensa e/ou de longa duração (média de 8horas diárias a uma intensidade de 30 a 35% da capacidade aeróbica máxima), condicionando assim as adaptações à atividade física. O aumento da frequência cardíaca (FC) é natural durante e após a prática de atividade física, voltando à normalidade após o seu término. Quando se comparam os efeitos a longo prazo da atividade física de lazer e profissional, verifica-se que a de lazer promove uma diminuição da frequência cardíaca diária, ao invés da laboral, que a aumenta.


O aumento prolongado da FC é um fator de risco para desenvolver doenças cardiovasculares e um fator preditor para diversas causas de mortalidade.


À semelhança da FC, o mesmo acontece com a pressão arterial. AFP que inclua mobilização de cargas elevadas ou posições mantidas no tempo elevam a pressão arterial diária (fator de risco para futuras doenças cardiovasculares, contrariamente à AFL). Apesar de a AFL implicar por vezes levantamento de cargas elevadas, estas apenas são realizadas por curtos períodos de tempo.

Outra diferença encontra-se no período de recuperação. Longos períodos de atividade física sem um período de recuperação suficiente, podem levar a fadiga e exaustão. Esta combinação verifica-se por norma na AFP, estando novamente associado ao surgimento de doenças cardiovasculares.

A AFP é usualmente realizada com baixo controlo no que diz respeito à velocidade de execução, às tarefas exigidas, ao agendamento e organização, aos agentes psicológicos, aos fatores de stress, entre outros. O contexto controlado que caracteriza a prática de AFL permite uma melhor gestão das diferentes condicionantes da atividade física (frequência, intensidade e duração), permitindo assim promover saúde e mitigar os seus riscos. Esta característica torna-se então uma mais valia comparativamente à AFP.


Apesar de ser expectável o surgimento de marcadores inflamatórios durante a atividade física, é natural que estes retomem à normalidade após a recuperação. A redução dos valores basais dos marcadores inflamatórios, assume-se como uma das adaptações crónicas à atividade física. Das consequências de elevados níveis de atividade física profissional durante dias consecutivos, sem períodos de recuperação adequados, destaca-se o aumento dos níveis destes marcadores inflamatórios, contrariando assim uma adaptação fisiológica benéfica da atividade física.


Posto isto, a prática de atividade física em contexto profissional não deve ser considerada suficiente para o dia a dia, sendo necessário a inclusão de AFL Tal como é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) toda a população deve realizar atividade física, idealmente seguindo-se pelas diretrizes definidas. Na ausência de contraindicações, deve-se iniciar a prática de forma gradual e aumentar progressivamente o nível de intensidade. Aqueles que desenvolvam sintomatologia durante este processo, que possuam incapacidades ou que possuam condições de saúde crónicas, devem então consultar profissionais de saúde de forma a que possam ser orientandos para a prática de atividade física, de acordo com as suas necessidades individuais, limitações, complicações funcionais, entre outras. Dentro deste grupo de profissionais de saúde, destacam-se os fisioterapeutas pelo vasto leque de condições (cardíacas, respiratórias, neurológicas, musculosqueléticas, pediátricas, de saúde da mulher e do homem, oncologia, de saúde mental, entre outras) em que a sua intervenção tem efetividade.


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Artigo desenvolvido por

Nuno Teixeira - Fisioterapeuta Especialista em Exercício Clínico e Performance da Fisiointegral (OF 1311)


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